Ela me disse que “escrever era sofrido”.
Imediatamente, lembrei-me da Clarice Lispector em Um sopro de Vida quando escreveu:
“ Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio extremamente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras - quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no fundo do poço”.
Mas não era o seu caso, pois a sua escrita não era literária e sim, científica. Estava postergando a escrita da sua tese doutorado.
Fui verificar a origem dessa crença limitante e regredimos aos 13 anos de idade quando ela foi pega “colando” numa prova de gramática.
De novo me veio à lembrança um texto de Luiz Fernando Veríssimo “O gigolô das palavras”, em que ele afirma que” A gramática precisa apanhar todos os dias para ver quem é que manda”.
Volto ao meu ofício de professora de língua portuguesa durante 25 anos e entendo a dificuldade desta falante da língua pátria que achava até então que não sabia escrever.
Mas na verdade, o que acontecia com a sua mente inconsciente é que toda vez que pensava em escrever, regredia naquela situação pré-adolescente de que por não saber empregar a gramática normativa, achava que não sabia escrever.
Precisava de um contra exemplo e ela me deu de forma natural: disse-me que foi elogiada e muito bem avaliada pelo orientador ao escrever um artigo científico.
E assim, a sua parte adulta foi até aquela sala de aula, há 25 anos, onde estava a sua criança interior ferida e a persuadiu a sair de lá, processando a cura emocional da situação que se arrastava por muito tempo.
Após a ressignificação da experiência traumática, a minha paciente elaborou o planejamento da escrita mensal por 12 horas e, com determinação e segurança finalizará o seu processo de escrita bem antes do tempo esperado.
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